..::O remédio necessário ::..
O remédio que faltava
A Saúde da Família pede licença e entra na casa de seus
usuários, “invadindo” e participando de vários momentos familiares. Cabe ao
profissional, perceber e tratar com
sensibilidade essas situações.
Ao fazer uma visita na casa de um jovem de 16 anos, a ACS
Cláudia Souza e a AVS Cida Batista, presenciaram uma briga familiar, que seria
o estopim para o resgate de uma vida.
O menor, órfão de
mãe e pai, vivia com o tio, que ainda
jovem, não estava conseguindo lidar com a responsabilidade de orientar um
adolescente. Após, a discussão, as agentes aproveitaram que o tio havia saído e conversaram com o
menor, que vamos chamar aqui de LS. Imediatamente puderam detectar uma carência de afeto e atenção. A escuta e o acolhimento foram os remédios que LS necessitava. Ele nos contou que foi criado pela avó, mas por ela estar doente teve que vir morar
com o tio. Durante o relato, pudemos observar toda a carga de tristezas, incertezas e o
grito de um pedido de socorro através do seu olhar. Ele disse que não tinha documentos, não sabia ler
e não era NINGUÉM. Essa fala nos sensibilizou e nos impulsionou a reescrever a estória de LS.
A partir de então o jovem passou a ser acompanhado diariamente por Cida e Claudia, que juntas se empenharam em resgatar a cidadania que LS não conhecera. Após conflitos familiares, o tio de LS se mudou e o deixou na rua. Sem família, sem casa, sem documentos e perdido em um
território onde o bem e o mal estão
muito próximos, não foi difícil que ele se envolvesse com drogas e entrasse por tortuosos caminhos.
A primeira preocupação da dupla foi se certificar da condição de saúde de LS e após consulta clínica e alguns exames complementares, foram tranquilizadas por um profissional da área técnica que afirmou que não havia nada de errado com a saúde de LS. Neste sentido, tomamos fôlego para encarar os próximos desafios que enfrentaríamos na busca de reescrever a estória de LS.
Por perceberem que a essência do jovem não havia se modificado em meio a tantas dificuldades que estava enfrentando, a dupla Cida e Claudia incansavelmente buscaram parcerias no território temendo que o jovem não se tornasse mais um número na estatística de menores que morrem no
tráfico. Mesmo passando por momentos difíceis e complexos jamais desistimos de ajudá-lo, continuamos seguindo com as com doses de amor,
carinho e diálogo. Criamos um vínculo
com ele e isso foi o ponto fundamental na
recuperação de LS.
O caso foi encaminhado ao CRAS Alemão (Centro de Referência e Assistência
Social) que foi em busca da família de LS, contudo, sem sucesso. Após essa busca acionamos o Conselho Tutelar, que ao acompanhar o caso, orientou como
conseguir que ele tirasse os documentos.
Nos diversos momentos de conversas, era percebido sempre a vontade que tinha em ter uma vida mais equilibrada. Neste sentido, buscamos ajuda com um ativista da
comunidade para que LS, saísse da vida do crime começasse a trabalhar honestamente. Essa transição não
foi fácil, mas essa será outra história.
Entendemos que para que a mudança desse certo era fundamental que
houvesse a continuidade do vínculo, portanto, acompanhamos LS em todas as etapas, para
que ele conseguisse realizar seu desejo de ter documentos.
Após quatro longos meses, foi muito
gratificante, ver LS com sua documentação, olhar pra gente e dizer: - "É tias,
agora eu sou ALGUÉM, né?"
Hoje ele trabalha, mora em um domicílio próximo ao trabalho
e está se reaproximando aos poucos de sua família. Recuperou sua auto-estima e acredita em um
futuro promissor. A cada conquista, nos procura para
partilhar suas alegrias.
Podemos observar nesse relato, a importância da visita
domiciliar e das parcerias firmadas entre diversos órgãos e lideranças, para
reescrever de forma vitoriosa uma nova estória.